História - Quando o Amor Leva à Morte - Dúvida
"Aslan - Sabes de uma coisa?
Joana - Não. Mas vou ficar a saber, assim que disseres.
Aslan
- Eu amo-te.
Joana - Amas?
Aslan
- E muito.
Joana - Não amas nada. Eu é que amo!
Aslan
- Eu amo mais.
Joana - Eu amo até ao infinito e mais além.
Aslan - E eu amo-te tanto que nem sei quanto isso é.
Joana - Sabes que horas são?
Aslan
- São horas de dizer mais uma vez que te amo.
Joana - Ainda não ficou claro que eu é que amo mais?
Aslan
- Eu amo mais! Eu amo mais! Eu amo mais!!!
Joana - Temos de ir a uma daquelas máquinas da verdade, saber quem ama mais.
Aslan
- Combinado. Quando vieres ter comigo a Istambul vais comprovar que eu é que amo mais.
Joana - Estou ansiosa por esse dia.
Aslan
- Sinto borboletas desde o primeiro dia em que te vi. És linda!
Joana - Sonho contigo desde o dia da festa.
Aslan - Estavas maravilhosa com o vestido vermelho e os saltos.
Joana - E tu, com o fato. Tão elegantemente bonito. Estavam todas a olhar para ti.
Aslan - Mas os meus olhos só olhavam para ti.
Joana - Aslan estou com um pouco de medo.
Aslan - Medo?
Joana - Sim. Quer dizer, só um pouco. Talvez sejam os nervos e a ansiedade a tomarem conta de mim.
Aslan - Calma Joana da minha primavera. Tudo vai correr bem.
Joana - Ainda não contei à Sarai nem a Sofia.
Aslan - Não tens de contar.
Joana - Mas sinto que estou a esconder-lhes alguma coisa.
Aslan - Estas a esconder a tua felicidade. As coisas boas da vida são para viver em privacidade e silêncio.
Joana - Eu confio nas minhas amigas.
Aslan - Nós nunca devemos confiar a 100%.
Joana - Eu vivo com elas à 2 anos. Elas sabem tudo sobre mim.
Aslan - E quantas vezes correu mal, por elas saberem?
Joana - Algumas, mas não tem nada a ver com o fato delas saberem.
Aslan - O que ninguém sabe, ninguém estraga.
Joana - Já mal consigo olhar para elas porque sinto-me mal em mentir.
Aslan - Não estás a mentir. Só estar a ocultar a maior e mais maravilhosa aventura da tua vida.
Joana - Tu sabes que eu não quero que isto seja só uma aventura, não sabes?
Aslan - Aventura é uma maneira de dizer. Para além disso, depois toda a gente vai ficar a saber.
Joana - Sim, eu sei que tens razão.
Aslan - Pois tenho. Descansa o teu coração, vai correr tudo bem. Eu amo-te, tu vens a Istambul ter comigo e eu depois vou contigo para Portugal. Vamos falar com os teus pais e peço-te em casamento.
Joana - Casamento?
Aslan - Eu disse que te amo. Não estou a brincar. Tu és a miúda da minha vida.
Joana - Não sei se os meus pais vão gostar de saber que o meu namorado é Muçulmano, vive em Istambul e tem mais 10 anos que eu
Aslan - Não penses nisso agora.
Joana - Ok...
Aslan - Vamos descansar?
Joana - É melhor, sim. Afinal já são 3:00h aqui.
Aslan - Aqui já são 4:00h.
Joana - Vou sonhar contigo.
Aslan - Eu já estou a sonhar zzzzzzzzzzzzz
Joana - Boa noite, dorme bem meu Güneş.
Aslan - Ay da minha vida tem uma boa noite de descanso. Amo-te, até amanhã. Mil beijinhos.
Joana - Beijinhos de amor e paixão."
Sofia nem queria acreditar no que acabava de ouvir. Eram as relevações da conversa, entre Joana e Aslan, que Sarai tinha encontrado no histórico do seu computador. As amigas estavam para além de tristes por todos os acontecimentos desapontadas.
Afinal qual era o valor da amizade? Dos dias que passamos juntas? Das conversas que partilhamos? As confidências, os conselhos? O que é que tudo isto valia para a Joana? (desabafava Sofia)
As amigas abraçaram-se envolvidas num choro de soluços com várias perguntas ainda sem respostas que assombravam os seus corações.
Sofia - Vamos à polícia. Levamos o teu computador e mostramos esta conversa.
Sarai - Achas que vão acreditar que não sabíamos de nada, que só vimos a conversa agora?
Sofia - Mas é a verdade.
Sarai - Eles não acreditaram em nós quando prestamos as primeiras declarações, porque acreditariam agora?
Sofia - Porque temos novos dados. Esta conversa muda tudo.
Sarai - Para ti pode ser fácil, mas eu sou Muçulmana a viver num país que se diz Cristão e praticante dos seus valores. Eu já sou olhada na rua. Os meus pais não merecem isto. Eu vim para Barcelona estudar. Não quero ser envolvida num crime.
Sofia - Não será pior, sabermos e não contarmos à polícia? Também ainda ninguém sabe exatamente se aconteceu um crime.
Sarai - Não sei. Não sei de nada.
Sem saberem o que fazer, Sarai e Sofia, decidem dormir no mesmo quarto, por mais uma noite. Desde o dia em que receberam o telefonema de Portugal, dos pais da Joana. A perguntar sobre o paradeiro da filha, que Sarai e Sofia viviam numa dúvida constante sobre o que deveriam ou não contar sobre Joana. Sobre as conversas, sobre as noites loucas, sobre os amores, sobre a irreverência. Haviam momentos em que elas próprias acreditavam que na verdade não sabiam de nada.
Voar sem AsAs, escrito a 18 de Julho 2021, em Lisboa
Continua...